Ontem caí da cadeira direto no chão e chorei. Não pela dor do tombo, mas pela dor da incerteza que eu sentia por dentro.
    Caí e no chão eu permaneci. Deixei que todas as vozes na minha cabeça falassem. Deixei que tocassem uma música pra mim. Enquanto a música tocava, enquanto as vozes cantavam, a cada tom alto na minha mente uma lágrima dos meus olhos caia.
   Deitei no chão, sobre o tapete escuro do quarto e pensei. As vozes já cansadas ficaram em silêncio. Não falavam, não faziam perguntas, apenas me ouviam. Fui olhando pra todas as paredes a minha volta, pra todas as coisas com os seus pequenos detalhes e deixei que as lembranças me invadissem. Delas eu não tirei lágrimas, tirei sorrisos. Tudo o que veio me fazendo sorrir estava a minha volta. Como se eu tivesse rodeado por telas enormes que reproduziam cada lembrança. Depois, quando os filmes acabaram e o quarto se manteve escuro eu chorei. Chorei pela alegria que me deram, chorei pelo medo da perda, chorei por sempre me sentir fraco. Mas na verdade, eu sou completamente incapaz de reconhecer a minha própria força. Então vejo-me assim. Me tomando como um fraco.
   Sobre mim: eu me dou demais, sinto demais, me entrego demais, amo demais. Sou como uma exceção, exatamente por viver cheio de excessos. Se tudo o que eu sinto é verdadeiro desejo me manter assim. Feliz por isso. Quando a verdade chegar, despeje a vida real sobre mim. Sem amortecer o golpe da queda. Sem me enganar, sem ilusões novamente. Agora, se são esses sentimentos que me alimentam por dentro, deixe-os fazer parte de mim. A dor da mentira é cruel, mas na verdade, ela é imperdoável e nos deixa incapaz de fazer suportá-la.
   As incertezas podem estar rodando a minha cabeça, mas não duraram para sempre. Se eu tenho vivido uma ilusão, uma mentira, essa foi a mais alucinógena, a mais gostosa e emocionante que eu já vivi. A melhor de todas que eu já tive.
   Se eu escrevo agora e todas às vezes que algo ronda a minha cabeça é justamente para deixar marcado tudo o que eu já senti. E mostrar que eu jamais esquecerei de tudo isso.

Tentação.

Me sinto tentado a provar de todos esses desejos 
sinto o calor do seu espírito queimar minha pele.
É como uma sinfonia, um grito distante;
Tentador demais aos meus ouvidos,
Tentador demais aos meus olhos.

Você não pode me ajudar agora
Porque é de você que eu devo manter distância 
Seus demônios insatisfeitos batem à porta da minha consciência;
Insistem em entrar, insistem para que eu me entregue. 

Os demônios a minha volta querem me tornar submisso
E eu não me permito ceder
O que você está fazendo comigo?
Não me faça querer despertar os demônios em mim
Porque depois ninguém me entregará ao meu controle. 

Sinto dentro da minha alma os demônios dessa tentação me
queimarem.
Estou em chamas
Sentindo todo o amor que há em tudo que amo ser queimado
Estou perdido fora do meu caminho, não posso confiar em mim 
mesmo.
Minha alma está em chamas
Só a distância pode me salvar agora. 

   Há uma brisa suave na chuva. Com gotas que tocam algo guardado dentro de você. Lhe fazendo pensar novamente em alguns acontecimentos. 
   Tudo o que fiz, tudo o que eu construí, tudo o que aprendi, tudo o que eu observei acontecer a minha volta me fizeram me transformar no que eu sou hoje. E hoje, enquanto a chuva tocava meu corpo, enquanto eu caminhava descalço pelo chão, muitos pensamentos tomaram conta da minha mente. Eu estou sendo sincero comigo mesmo. Não escondendo quem eu realmente sou para mim mesmo. Estou sendo sincero em mostrar uma boa parte de mim a todos que, neste momento, caminham comigo. 
   Ainda há coisas escondidas nas profundezas da minha alma. Mas agora, é como se, diante de toda essa escuridão, uma luz começasse a brilhar. Não posso dizer que nunca gostei de manter essa escuridão dentro de mim. Eu gostei, eu gosto. Nessa escuridão eu me conheço. E no brilho dessa luz, estou conhecendo um lado de mim que eu sempre percebi intacto, porém inquieto. Um lado que sempre quis se prevalecer. Hoje ele já se mostra moldado e pronto diante de mim. Pronto, mas não completo. Porque, dentro de mim eu sinto como se algo sempre fosse faltar. Que tudo o que eu sempre quis. Tudo o que eu sempre desejei, jamais iria se realizar. 
   Mesmo que eu sacrifique tudo o que tenho. Mesmo que eu sacrifique até mesmo quem eu sou. Isso nunca iria mudar. Não o culpo por nada disso. Não culpo nem a mim mesmo. Porque eu sei, e conheço as coisas que eu nunca terei. 
   Agora, nesse exato momento, se eu tenho que sacrificar algo, eu sacrifico todos os meus medos, sacrifico todas as minhas dores, sacrifico todas as minhas angústias, sacrifico toda a dor que eu sinto, mas nunca sacrificarei o amo que eu sinto dentro de mim, nunca sacrificarei todo o amor que eu tenho a dar. Porque no fim, isso é o que realmente importa. Não sacrifico também minhas mágoas já vividas, e nem mesmo as mágoas que eu terei, porque foi delas que eu montei a minha fortaleza. Nossas emoções não nos tornam fracos, mas sim, nos tornam mais fortes. Nos tornam capazes de viver um dia atrás do outro. São nossas emoções o motivo de toda uma motivação, de todo um caminho. Então, se no fim, algo em mim deva ser sacrificado, eu sacrifico a minha vida, em nome de tudo o que já vivi. Eu a sacrifico em nome de todos os medos enfrentados, em nome de todas as emoções já vividas, trocadas, sentidas; sacrifico a minha vida em nome de cada amigo verdadeiro que tenho. Mas principalmente, sacrifico a minha vida em nome de todo o amor verdadeiro que eu já senti. Sacrifico a minha vida sobre todo um oceano em cima de mim. Para que no fim, as águas me levem para o meu verdadeiro destino. Para que as águas e levem para um novo começo que eu terei ao despertar de tudo o que me mata e me sufoca, que me despertará para a realidade que espera por mim num mundo lá fora. 

-Carlos Eduardo. 22(23)-12-2012  / 02:26

"Muitas vezes quando passamos por momentos ruins costumam nos dizer que as consequências do que aconteceu logo irão passar. Como num dia de chuva, depois da tempestade o sol sempre irá nascer. Mesmo com a mais forte das tempestades, o sol irá surgir na manhã seguinte e tudo ficará bem. Mas ainda assim, algumas coisas permanecem ali. Depois da tempestade, mesmo com o sol radiante no céu, o solo ainda continuará frio, a terra continuará molhada. Consequência de que mesmo que tudo pareça resolvido, ainda existem assuntos a serem tratados."