domingo, 12 de setembro de 2010

A Morte e Lúcifer

Naquele momento eu carregava nos braços uma alma.
Depois que avistei a distância que estava seu corpo, eu a coloquei de pé, a convidei a andar comigo. Caminhamos até o alto de um penhasco. Onde avistamos as ondas cinza que batiam e quebravam nas paredes de limo. E nos, eu e ela avistávamos ali do alto.
Toquei em sua mão e a segurei. Naquele instante eu ainda era vivo, meu trabalho era entregar almas a Morte. Mas naquele dia não gostei de carregar aquela alma; queria ir com ela, queria viver para sempre ao lado dela. Nos dois demos as mãos, sentimos o vento que soprava sacudir nossas vestes. Senti a fria pele daquela alma. Demos uma última olhada um no olhar do outro.
Estávamos prontos. Fechamos os olhos, viramos para frente, demos o último passo e nos jogamos.
Voamos sem soltar as mãos. Demoramos em cair. Sorrimos juntos sem abrir os olhos, e depois de um breve momento. O último momento de felicidade. Sentimos as águas cinza nos possuir, nos congelar, naquele maravilhoso frio.
Caímos, sentimos e morremos. Eu morri a alma já estava morta.
Chegamos ao paraíso, no vale da morte.
Sentada em uma cripta a ceifadora escrevia em um lindo caderno de capa preta. Nós dois olhamos seu rosto. Não havia aquelas feições que erramos acostumados a vermos, de uma caveira.
Suas assas eram lindas, seu rosto era lindo. Pele branca, pálida, olhos castanhos claros vindos de um olhar avermelhado. Olhamos em seus olhos que também nos olhava. Naquela hora uma lágrima de sangue escorreu sobre sua pele. Aquilo a deixo ainda mais bela.
Seus cabelos negros brilhavam enquanto refletia a fraca luz do sol. Ela era linda, apaixonante e precisava de um companheiro, de um ceifador para ao seu lado tomar almas.
Naquela Hora a Morte me acolheu de braços abertos. Entreguei-me a ela. Soltei a mão em que eu segurava. Eu não queria faze-la sofrer, mas era preciso e eu queria ir. Por um instante olhei em seus olhos que choravam. E rapidamente ao seu lado um vulto preto surgia. Era Lúcifer que veio busca-la pessoalmente. Ele queria a nos dois. Erramos mais que especiais para ele. Nos dois aviamos prometido nossas almas. Mas ele não podia me tirar daquele lugar. Não agora, eu não queria. Ele caminhou a minha direção, de asas e braços abertos. E ao seu lado, acorrentada estava ela. Em sua mão esquerda havia outra corrente, ela pertencia a mim.
Ele tocou seus dedos quentes e aconchegantes em meu rosto. Eu os senti, e percebi que nem eu e nem ela queríamos ir. Mas ao olhar nos olhos da alma que eu havia acompanhado a alma pela qual eu havia morrido; a antiga paixão retornou então eu fui com ela. Lúcifer nos prendeu em suas assas e nos levou embora para o seu lar. Onde eu e ela eternamente sofremos. Mas entre mim e ela havia felicidade, pois estávamos juntos. 

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